quinta-feira, 5 de abril de 2012

No ônibus

Sobre criar....

Paredes.
Elas correm e desaparecem com desprendimento invejável.
Queria eu ser tão meu e não pertencer a todas elas.
Daquele banco em movimento deixo exalar toda minha essência para fora da janela.
Ela flutua
Expande-se.
Aos poucos vou abraçando toda a cidade
Posso sentir a aspereza dos muros,
O frio e o calor deles
Vejo o mar
Sinto mar.
O salitre preenche cada rua de meus pulmões.
Ruas em movimento, enquanto minha saudade se movimenta por todas elas.
Calçadas, casas, casos...
Busco o mar
Não me pertenço mais.
Sou as pessoas,
Passos,
Sou os apartamentos,
Lugares,
Meios ,
Centros,
Lados,
O lodo.
Na boca, o sabor da areia
Do picolé
Das crianças pegando jacaré.
Definitivamente não pertenço a mim.
Posso ser tudo.
Trago o mundo para dentro de meu peito
E jorro para fora todo o vento que lambe a casca mundana.
Meu olho é o sol.
Ao alcance de minha consciência, tudo pode ser visto.
Em um segundo, milhões de vidas se acendem para mim.
Bilhões de vozes.
Gestos
Jeitos.
Pessoas.
Trilhões de histórias.
O mundo sou eu.



Sentado, naquele banco de ônibus
Com um caderninho amarelo apoiado sobre minhas coxas,
Respiro fundo.
Escolho alguém.
Desenho um rosto.














 

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Este trabalho de P. Torinno, foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição - NãoComercial - SemDerivados 3.0 Não Adaptada.